Se você não for o tipo de técnico ou produtor que avalia cuidadosamente a lavoura, semana após semana, atento como um joalheiro que inspeciona o item de valor, provavelmente não notará os sintomas e sinais de um grupo bastante particular de doenças, àquelas que causam dano em haste e vagens. Qualquer desavisado talvez note algo anormal em uma lavoura atacada por antracnose, que concluindo seu ciclo demonstra uma quantidade exagerada de pecíolos caídos no chão, ou vagens que aparentam ter “morrido” antes da hora.
A dúvida que fica é se você é capaz de detectar o menor indício dessas doenças na lavoura, os sintomas mais breves e superficiais, e diferenciar os dois principais causadores desse tipo de dano, antracnose e phomopsis.
Para um breve entendimento desse tipo de patógeno, tanto Colletotrichum sp. (causador da antracnose) quanto Phomopsis sp. (causador da seca da haste) compõe um grupo de fungos que colonizam estruturas mortas da planta, permanecendo na palhada entre uma safra e outra.
Eles produzem esporos que apesar de pequenos precisam da água da chuva para sua dispersão. Os respingos d’agua retiram os esporos dos corpos de frutificação (picnídios no caso de phomopsis e acérvulos no caso de antracnose) e os espalham à pequena e média distância ao redor do local onde foram produzidos. Por isso é comum encontrar sua distribuição em “zonas” pela lavoura, com locais mais e menos atacados.

Talvez você não saiba, mas entre os fungos causadores de doenças na cultura da soja estes dois são alguns dos mais comuns de serem encontrados nas sementes. Não é difícil detectar incidências de 0,5 a 3% desses patógenos em sementes comerciais. Isso parece explicar a razão de encontrarmos plantas com sintomas dessas doenças em áreas de abertura, onde teoricamente não deveria haver presença delas.
Na safra 19/20 tive alguns problemas com lotes de qualidade duvidosa onde muitas plântulas apresentaram lesões castanho-avermelhadas nos cotilédones, uma evidência de antracnose (talvez em breve eu explique melhor sobre isso).

Com relação à antracnose existe uma boa variação na manifestação dos sintomas e capacidade de dano em soja. Uma das suas manifestações típicas é um escurecimento das nervuras da folha em sua face inferior, do verde para castanho-escuro.

Talvez o sintoma que mais chame atenção seja o colapso do pecíolo. Se acompanharmos com bastante atenção uma lavoura com esses sintomas é possível observar que tudo se inicia com um leve escurecimento do pecíolo na exterminada próxima à inserção dos folíolos.

Na porção escurecida ocorre o estrangulamento dos vasos condutores de seiva levando a murcha dos folíolos. Logo eles secam e o pecíolo antes verde toma uma coloração amarela, até se destacar da planta. Boa parte dos pecíolos já secos fica presa entre as hastes e trifólios, se olhar de perto é possível ver vários pequenos pontos negros espalhados irregularmente em toda sua extensão. Esses pontinhos são os corpos de frutificação típicos da antracnose (acérvulos), onde são produzidos os esporos para novas infecções.
A abertura de vagens ainda no enchimento de grãos (com uma aparência de um zíper mal fechado) é um outro indício de antracnose. Esse sintoma também pode até ter alguma causa abiótica, como períodos de seca seguidos de chuva intensa. Um “tira teima” para separar as suas causas pode ser o escurecimento da vagem nas extremidades da abertura (a típica coloração castanho escura que aparece junto com o patógeno).

Em outros casos, as vagens podem ser infectadas ainda em sua formação ou no início do enchimento de grãos, nesses casos haverá abortamento dos grãos (ou até de toda a vagem) ou redução do seu peso. Essas vagens secam de forma prematura e ficam tomadas por acérvulos.

Esse mesmo sintoma que acabei de descrever também pode ser provocado por phomopsis (causador de seca da haste). Existe uma separação clássica dos sinais de antracnose e phomopsis, no primeiro caso os sinais de colletotrichum (os acérvulos) espalham-se aleatoriamente na superfície do tecido atacado, enquanto que os picnídeos de phomopsis normalmente aparecem enfileirados. Nem sempre é tão fácil assim separar esses sinais, na dúvida investigue com uma lupa. Os picnídeos tem um aspecto de um pelo de barba mal feita, enquanto que os acérvulos aparentam vário pequenos espinhos negros espetados em um mesmo ponto.
A seca da haste é uma doença muito comum que geralmente passa despercebida. A perda de algumas ramificações do baixeiro após o fechamento das entrelinhas pode parecer normal para alguns produtores e técnicos por ser um sintoma tão recorrente.

Chuva intensa na colheita costuma ser um grande problema com essa doença. Caso a lavoura demore muita a ser colhida depois de seca e tome chuvas frequentes nesse período é possível observar que muitas plantas se prostram e acamam. Essas plantas geralmente adquirem uma coloração cinza claro bem distinta daquelas normais e eretas. Se você olhar com cuidado irá notar os picnídeos enfileirados nas suas hastes.

Os danos provocados por phomopsis acompanham a soja até a sua maturação. Vagens de plantas atacadas apresentam uma deiscência prematura (se abrem ainda no campo), principalmente quando, já na colheita, períodos de intensa chuva são seguidos de tempo aberto e sol quente.

Eng. MS Geraldo Gontijo
Parabéns Geraldo!!!
Excelentes informações…
Orgulho de ser fazenda parceira!!!
Parabéns Geraldim! Muito bao, bem técnico e muito bem explicado !
Excelente redação.
A antracnose retirou do agricultor cerca de R$ 2 Bi ( Estimativa) no Tocantins safra 2019/2020.